domingo, 3 de fevereiro de 2013

Cidade baixa (para o amigo Augusto César Costa).

Os matadores dos grupos de extermínio nos dias de folga estavam saindo às sextas para beber sangue. Alguns cheirados, alcoolizados, outros alucinados de tanta paranoia e uns poucos, muito sóbrios e frios, endurecidos pela própria maldade. Os policiais corruptos, por sua vez, estavam tratando do tráfico de armas e de drogas, guerras entre facções armadas precisavam ser reativadas, depois de uns três cabeças importantes, bem domesticados nas mãos dos canas, tombarem numa luta sangrenta nas fronteiras da favela incrustada num dos principais corredores turísticos da cidade, entre o Centro histórico, a antiga Aldeota e a Praia de Iracema, a atuação de máfias estrangeiras e locais com policiais corruptos em alianças para lá de perigosas, articuladas em torno também da organização do câmbio negro do euro, e não apenas em torno das mulheres dos chefes italianos, estavam preocupados por estarem sendo alvos de assaltos a mão armada de jovens mortíferos que eles próprios recrutaram para fazer o serviço sujo dos italianos nos entornos dos condomínios onde putas, armas, drogas e muito euro faziam pilares da máquina criminal funcionar. A prostituição perdeu fôlego, a crise na Itália não estava ajudando, e os mercadores se atravancam nas costas das vadias para lhes tirar sangue, é trampo dia e noite pra compensar perdas, é batalha, batalha, a toda hora, do dia, da tarde, da noite, o que for, é o tapa na pantera, os rapazes, meio-irmãos delas, eivados de medo e de silêncio, fazem da vida cotidiana da cidade baixa uma faixa de desespero, dor e combate contra as forças poderosas da submissão aos policiais e aos outros matadores, e se lançam em missões suicidas, para matar ou morrer, saltando sobre a carótida dos gringos ou dos grã-finos do Meireles, bairro dos grandes crimes e lugar de moradia de criminosos de ilharga protegida, ao lado dos luxuosos prédios da Avenida Beira-Mar, os jovens, impactantes, sóbrios ou tresloucados, vão mordendo a orelha dos cunhados e dos 'playboy', e informadas pelos estilhaços das brigas, as meninas, as putinhas drogadas e as malucas mais perigosas que andam mais armadas e violentas do que os cabras vão fazendo de uma cidade litorânea do Atlântico Sul, um lugar ofuscado pelo brilho intensivo de seu próprio e tremendo potencial para o 'progresso' do crime. E a cidade gira, o sol está quente.

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